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sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Providencia, um convite a caminhada

Ano passado tive a oportunidade de conhecer a cidade de Santiago, capital do Chile, e gostaria de compartilhar minhas impressões sobre o urbanismo da cidade. Eu fiquei hospedado na comuna de Providencia, onde pude constatar a eficiência dessas duas coisas. A região que fiquei, próxima à estação Manuel Montt do metrô, possui muitos prédios, e a grande maioria deles tem mais de um uso: costuma ter lojas, restaurantes e bares no pavimento térreo, enquanto os andares superiores são compostos por residências. Não são edifícios muito altos, mas mesmo assim propiciam uma ótima concentração de pessoas em um espaço pequeno.

Além do adensamento reduzir as distâncias, as calçadas também favorecem a caminhada. São largas, espaçosas, bem conservadas - me lembro de ter visto poucos buracos e outros defeitos - conseguindo acomodar muita gente. Com poucos minutos de caminhada, eu tinha acesso a praticamente todo tipo de comércio e serviço: restaurante, lanchonete, mercado, lavanderia, bares, lojas de roupas, discos, igrejas, hospitais.

A geografia do bairro - de quase toda Santiago, aliás -, também ajuda. A cidade é praticamente toda plana, sem grandes desníveis como vemos comumente nas cidades brasileiras. Tudo isso favorece o deslocamento a pé e também com outros modais que não demandam combustível, como skate, bicicletas, patinetes. A existência de bicicletários na calçada também ajuda muito isso. O maior deles, invariavelmente lotado, está na frente do Costanera Center, uma das principais atrações turísticas da cidade. 

Sinceramente, não conheço a fundo a história do local para saber se ele foi planejado assim desde sua construção ou se foi uma consequência da evolução da cidade. Mas foi legal notar que as coisas funcionam tal qual a teoria da Jane Jacobs prega: as ruas movimentadas durante todo o dia devido a variedade de atividades do local, a sensação de segurança, múltiplas opções de transporte, a opção de se fazer tudo a pé, sem depender de carro próprio, como é o padrão aqui no Brasil.

Logicamente, nem tudo são flores. Como o bairro é cortado pelo principal eixo de deslocamento no sentido leste-oeste, o trânsito é bem intenso, e com o clima seco, o ar é bem poluído. A névoa de Santiago já é um clássico, e não deixou de marcar presença nos dias que estive na cidade. A poluição sonora causada pelo trânsito também é grande, já que os motoristas chilenos são bem impacientes e buzinam para absolutamente tudo.

Talvez nem tudo possa ser implementado de cara aqui onde moramos, mas conhecer como as coisas funcionam em outros lugares, e ver que a teoria é bem aplicável na prática, é essencial para que mudemos nossa realidade.

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